Entrevista com o eliminado: Eliezer
Em um jogo pautado pelas relações, Eliezer sobreviveu até a seminal. Último participante do grupo Pipoca a deixar a temporada, o designer e empresário se despediu da casa mais vigiada do Brasil com 65,76% dos votos em um paredão contra Arthur Aguiar e Douglas Silva – dois dos três finalistas da edição – decidido no último domingo, dia 24. Após 98 dias bem vividos no programa, Eli conta que a falta de sorte não marcou apenas sua trajetória no BBB, mas que em sua vida fora da casa já era algo comum. “Não foi só no BBB. Aqui fora também acontecem coisas comigo que nem eu acredito. Mas eu acho que foi muito divertido. Eu gosto de levar a vida de forma leve, então eu sabia que, se levasse cada derrota, cada azar ao pé da letra numa dimensão muito grande, se eu fomentasse aquilo, eu não iria conseguir me manter equilibrado e estável para continuar”, analisa.
A seguir, Eliezer avalia os motivos que o fizeram chegar à seminal do ‘BBB 22’, comenta sobre os grandes vínculos que construiu na casa e revela para quem fica sua torcida na grande final desta terça-feira, quando acontece a decisão da temporada. Eli também adianta planos para a vida pós-reality, nos quais contempla amigos que fez no confinamento.
Você foi eliminado faltando dois dias para a final. Na sua opinião, o que faltou para chegar ao pódio?
Eu ainda não tenho muita noção de tudo o que aconteceu, mas com as informações que eu tenho, acredito que foi uma questão muito estratégica, de jogo. Eu estava de um lado que foi visto de uma forma diferente do que a gente imaginava lá dentro, fazia parte de um grupo que talvez não tenha passado o que queria, ou talvez não tenha sido entendido naquele momento. Do outro lado, estava um grupo sempre presente em toda a edição, ganhando as provas, lideranças e – querendo ou não – fazendo o maior número de movimentações no jogo. Consequentemente, eles ficam mais em evidência. Eu nunca imaginei que chegaria em quarto lugar por conta de todas as pessoas do meu grupo estarem saindo, uma atrás da outra. Hoje eu tenho noção de que a torcida do Arthur é muito grande. Eu e ele tivemos uma boa relação durante a temporada, independentemente de sermos de lados diferentes. A grande diferença foi que eu nunca o ataquei. Ele nunca foi um alvo para mim nem eu para ele. A gente teve uma relação forte de lealdade e transparência. E, no final, quando ele me vê totalmente sozinho (após a saída da Natália), ele estende a mão para mim e fala: ‘eu já passei por isso que você está passando, no início do programa, quando eu estava sozinho, e sei o quanto é ruim’. Ali a gente se aproxima muito. Naquele momento eu só tinha ele. O Scooby, o D.G., o P.A. e o Gustavo eram muito fechados entre eles. Teve ainda uma questão do voto dele com os meninos, então a gente se aproximou.
Você é um cara que gosta de viver aventuras e novas experiências. O que mais te surpreendeu no programa?
Eu acho que tudo. Eu nunca imaginei que o ‘Big Brother’ é como é. Como espectador, do outro lado da televisão, eu imaginava uma coisa totalmente diferente. A expectativa e a realidade são muito distintas porque eu pensava que era apenas um programa de entretenimento, nunca pensei que seria um jogo em que as pessoas teriam que jogar de fato para sobreviverem ali dentro. E estando lá tudo é muito intenso: uma semana é como se fosse um mês. Não parece que eu fiquei três meses, mas, sim, um ano na casa. Eu sentia tudo ao mesmo tempo e não sabia o que estava sentindo. É um mergulho dentro de si mesmo. Você tem que encarar todos os seus medos, suas questões e não tem para onde correr. Você não tem como dizer: ‘ah, hoje eu não quero sentir isso. Vou à praia, vou viajar ou escutar uma música. Vou ficar off o dia inteiro porque não quero falar com ninguém’. Lá você não tem essa oportunidade, não tem outra saída a não ser se encarar.
O que leva de aprendizado de sua participação no reality?
Eu acho que o grande aprendizado do BBB, o que me surpreendeu mais foi esse mergulho em si mesmo. Hoje eu saio uma pessoa muito melhor do que entrei. Acho que é impossível alguém sair igual de uma experiência dessa. Foram os sentimentos mais variados, era tudo junto ao mesmo tempo. Eu descobri um novo Eliezer, cresci muito. Aqui fora a gente não dá a devida atenção a algumas coisas que lá dentro a gente percebe o quanto são importantes e que, naquele momento, a gente não tem. Eu também construí relações e sentimentos lá que eu não sentia por pessoas aqui fora há anos. Lá eu senti em semanas. Isso para mim também foi muito novo, não consigo nem explicar como isso me atingiu lá. Eu tenho certeza de que boa parte do programa foi confortável para mim porque eu tinha essas pessoas ao meu lado, me apoiando e eu as apoiando, numa relação de mão dupla.
Sua falta de sorte no jogo chamou bastante atenção do público. Você mesmo comentou sobre isso na casa e deu risada dessas situações. Na vida aqui fora, também era assim?
Na vida real, tudo o que pode acontecer comigo acontece. As situações mais improváveis, as histórias mais loucas, quando eu conto, as pessoas duvidam que aconteceram comigo. Dessa vez, no ‘Big Brother’, eu provei para todo mundo que um dia desconfiou de uma história minha que é possível acontecer. Eu tenho esse ímã, não sei explicar. Acho que Deus, quando me fez, falou: ‘Esse aqui vai com tudo’ (risos). Eu não vou falar que deu tudo errado porque eu entrei no BBB, fiquei até o final e não acho que seja um azar. Isso é uma vitória muito grande para mim. Mas, ainda assim, dentro dessa vitória, houve esses acasos inexplicáveis. E não foi só no BBB; aqui fora também acontecem coisas comigo que nem eu acredito. Mas eu acho que foi muito divertido. Eu gosto de levar a vida de forma leve, então eu sabia que, se levasse cada derrota, cada azar ao pé da letra numa dimensão muito grande, se eu fomentasse aquilo, eu não iria conseguir me manter equilibrado e estável para continuar, uma vez que estava tudo dando errado. As pessoas estavam saindo, eu não ganhava nada, só tirava zero, era vetado. Tudo acontecia ali, então eu tinha que procurar o lado bom das situações, tirar sarro para deixar mais leve para mim, conduzir da melhor forma possível e não surtar lá dentro.
Foi apenas falta de sorte ou acha que fez o jogo errado?
Não digo que fiz errado porque o meu jogo foi muito consequência das minhas relações. Eu não sei como está aqui fora, se as pessoas ainda gostam de mim, se vão querer ser minhas amigas, mas lá dentro elas foram muito importantes para mim. E o jogo veio como consequência dessas relações que foram priorizadas. Talvez esse tenha sido o erro: eu estava dentro do jogo, era para jogar, não só me relacionar. Só que eu não sei ser o contrário disso, eu não ia me aproximar de alguém apenas com o objetivo de não ser votado, ou para formar alianças e conseguir ganhar mais provas, ir ao Vip, participar das ações. Eu também fiquei muito na Xepa, ganhei muitos monstros, tudo isso aconteceu. Acredito ter acordado para o jogo tarde, do meio do programa para frente. Depois que boa parte do meu quarto tinha saído, eu refleti: ‘Meu Deus, o que vai acontecer agora?’ Ali eu começo a olhar para o jogo de uma maneira mais estratégica, já que as minhas relações estavam indo embora; começo a ver as pessoas mais como jogadoras. Talvez eu tenha demorado para ter essa visão, precisei perder, me sentir acuado, fragilizado, ameaçado. Toda semana eu era votado pelos participantes. Mas eu fui muito genuíno e honesto com a relações que construí.
Logo que entrou no BBB, sua risada inusitada virou meme nas redes sociais. Você já imaginava que isso poderia acontecer?
Imaginava! Eu já fui expulso de uma sala de cinema por conta da minha risada. Todo mundo que olha ou que escuta fica se perguntando se é sério, se é de verdade. Às vezes atinge um nível tão forte que eu não consigo controlar. Era algo que eu já imaginava que poderia viralizar quando eu risse lá dentro, só não sabia quando e como aconteceria. Mas foi logo no início, né? O Vyni era muito engraçado. Eu estava muito feliz. Imagina? Eu passei dez dias no pré-confinamento, sem ver ou falar com ninguém e, de repente, estou dentro do BBB com 20 pessoas, todo mundo muito feliz, assim como eu. Então, só ronquei (risos).
Apesar do azar no jogo, você chegou à semifinal da temporada. Por que acha que foi o integrante do quarto Lollipop a ir mais longe no jogo?
Eu acho que foi uma junção de coisas. Pelas informações que já eu tive aqui fora, durante a minha trajetória eu fui visto de várias maneiras: as pessoas gostavam, depois não gostavam; depois gostavam, e não gostavam do meu posicionamento no jogo. Eu acho que os paredões que eu fui também me ajudaram porque, talvez, naqueles momentos eu não tinha que sair e isso me manteve ali. Ontem, no discurso do Tadeu, ele falou que naquele paredão com o DG, nós tivemos a mesma porcentagem, que era super baixa; foi quando a Laís saiu e nós ficamos empatados. Foi uma sucessão de fatos. Hoje eu sei que a torcida do Arthur é muito forte e, como eu me aproximei, me ajudou a ir mais longe. Talvez as pessoas que, lá atrás, julgaram a minha relação com o Vyni tiveram mais tempo de me conhecer de verdade. Eu acredito que fui muito coerente durante todo o programa, não oscilei. Eu entrei, fui construindo uma opinião e saí com ela.
Você e o Vyni construíram uma amizade bem forte na casa. O que uniu vocês?
Não sei explicar o que uniu a gente, vou até rever as imagens para entender. Dentro da casa, antes de ele sair, houve vários momentos em que a gente ficou se perguntando como a gente se uniu, qual foi a virada de chave para nós dois. Eu lembro de momentos na festa do Alok, em que eu estava muito emocionado, era meu aniversário. Ali a gente teve uma conversa, ele se emocionou também. Depois eu lembro de um momento em que ele se abriu para mim, me contou sobre uma passagem da vida dele muito forte… Mas ali a gente já estava muito próximos. Tudo foi muito intenso. A gente se conectou e ficamos eu e ele por muito tempo. Fomos fortalecendo a nossa relação e não percebemos que o negócio estava ficando do tamanho que estava. Soube que até prejudicou o jogo dele e o meu também, a gente demorou a entrar no game, talvez por conta de ter ficado só a gente. Essa era uma percepção que eu já tinha dentro da casa, que pode ter realmente atrapalhado, já que é um jogo. Não sei dizer quando nem como, mas sei que aconteceu.
Pretende manter esse vínculo com o Vyni e com outros participantes aqui fora?
Se eles quiserem, eu quero muito. Estou com muita saudade dele e da Eslô, principalmente. Também da Jade, da Laís, do Rodrigo, que são pessoas que eu gosto muito e com quem eu me relacionei de verdade, me entreguei, fui leal. Ontem eu tive um pouco de conversa com a Eslô e com ela vou manter contato, com certeza. Ainda não falei com o Vyni… Mas são pessoas que eu quero levar para a minha vida.
Maria e Natália foram duas pessoas com quem você ficou na casa. Esses momentos ajudaram a amenizar a pressão do jogo?
Totalmente. Meu relacionamento com a Maria foi muito diferente do meu relacionamento com a Natália. Eu e a Maria já estávamos no caminho de nos tornarmos grandes amigos. Nós já éramos muito amigos e tínhamos uma situação à parte, entre homem e mulher. Era algo muito pontual, que foi conversado antes de acontecer. Nós dois já sabíamos como seria se acontecesse. Sempre ficávamos eu, Maria e Vyni e o papo começou a evoluir em relação ao jogo, porque passavam os dias e a Maria ia para o game bem mais do que eu e o Vyni. Então, com certeza, além de minha amiga, ela seria uma aliada ali dentro, até porque a gente fazia parte do mesmo quarto. A relação com a Natália já foi diferente. A gente começou numa situação de ‘vamos só curtir’; depois algumas coisas aconteceram e a relação foi evoluindo. Não tem como você estar numa casa com uma pessoa, conviver com ela o tempo todo e a relação se manter igual. Por mais que eu não tivesse o objetivo de fazer um casal lá dentro. Sempre que eu assistia ao ‘Big Brother’, eu achava que o homem do casal nunca ganhava o programa, então nunca foi meu objetivo. Só que quando o Vyni saiu e eu fiquei sozinho, a minha relação com a Natália ficou muito mais intensa, porque ela era a única pessoa que eu tinha naquele momento, que me ajudou e muito! A gente acabou tendo uma relação também de amizade em cima disso porque ela também estava num momento muito frágil, com várias questões com as meninas. Era ela, de um lado, com questões com as meninas, e eu, de outro lado, com as minhas questões internas. Nós ficamos muito próximos naquele momento. Então, sim, principalmente a minha relação com a Natália, me ajudou a segurar a onda muitas vezes, ela foi muito parceira comigo.
Pretende ter contato ou engatar relacionamento com ela após o programa?
Não sei te responder porque eu acho que é muito novo para minha vida e para a vida dela. Eu vi a Naty na Sapucaí e fiquei super feliz. Ela deve estar sendo gigante aqui fora também. Mas a gente já tinha conversado, na casa, que o que a gente teve iríamos manter lá dentro. E quando saíssemos, seria outra história.
Você tinha uma boa relação com os meninos – D.G., P.A., Scooby, Gustavo e Arthur – mas não fazia parte do grupo. Em algum momento pensou em jogar junto com eles e formar uma aliança?
Não, não fazia sentido para mim porque eu era o alvo deles. O Gustavo foi muito importante na trajetória do jogo como um todo. Na minha visão de lá de dentro, eu acho que o jogo estava engatinhando e, quando o Gustavo entrou, ele deu uma virada, mudou o game. Só que nesse momento, ele já entrou com o objetivo de colocar tanto a mim, quanto as pessoas que eu mais gostava no paredão: Vyni e Eslô. Foi um momento em que eu me senti ameaçado, então não fazia sentido para mim, depois que ele entrou e começou a fazer parte do grupo dos meninos, entrar, por mais que tivesse uma boa relação com o Arthur e o D.G. Eu era opção de voto dos caras, fazia parte da estratégia deles me eliminar. Também não fazia muito sentido para mim, uma vez que as pessoas que eu gostava e queria proteger estavam do outro lado, no meu quarto.
Quais foram seus melhores momentos no BBB? E os mais difíceis?
A primeira festa do Alok, que foi no meu aniversário. O Alok cantando parabéns na ‘minha casa’ para mim foi muito feliz. Quando eu ganhei a prova do líder, por mais que a minha liderança tenha sido super caótica – a Eli style, vestido de polvo – foi diferente, mas muito feliz (risos). O momento em que eu volto do paredão – que depois descubro ser falso – porque eu acreditei que estivesse em um paredão com pessoas fortes (Lina, Gustavo e Arthur). Era a minha primeira vitória no jogo, porque no paredão com a Laís, eram dois lollipopers e um dos dois iria sair. E eu não sabia por que eu tinha ficado naquele rolê. Aquela festa em que eu vi o meu vídeo também foi maravilhosa, não posso esquecer. Já o momento mais difícil foi a eliminação do Vyni. Também houve o momento em que eu fui puxado no jogo da discórdia por conta da minha relação com a Natália, em que as pessoas falaram que eu era interesseiro. Ser colocado daquela forma foi muito ruim. No final também, quando todo mundo saiu e eu fiquei super fragilizado, porque não acreditava que eu iria permanecer. Para mim, estava todo mundo cancelado, já que estava todo mundo saindo. Então, eu também estaria cancelado. Estava com medo do que poderia acontecer aqui fora quando eu saísse. Eu também senti muita culpa com a eliminação da Larissa, com a questão do voto.
Houve algum arrependimento nessa experiência?
Na minha visão como jogador, me arrependo de ter demorado a olhar para o game de forma estratégia, porque no início a minha estratégia era muito básica, era não ir ao paredão. Como eu não vou ao paredão? Vou focar nas minhas relações, que assim eu consigo evitar a berlinda. Isso fez com que eu demorasse a perceber o que estava acontecendo debaixo dos meus olhos. Se eu tivesse feito isso um pouco antes, poderia ter mudado alguma coisa. Pelo meu lado pessoal, me arrependo muito do jogo da discórdia do balde em que eu puxo a Natália, principalmente porque a gente começa a se relacionar mais a partir dali e eu me envolvo emocionalmente com ela. Me senti muito culpado.
Quem acha que vai levar o prêmio de R$ 1,5 milhão amanhã?
O Arthur.
Para quem está torcendo?
Estou torcendo pelo Arthur porque, dos que ficaram na casa, ele é o cara com quem eu tive a melhor relação. Eu gosto dele como pessoa e, dentro do jogo, ele foi muito leal e transparente comigo o tempo todo. Tudo o que ele falou na primeira semana se manteve até a última. Até quando ele votou em mim para salvar o Scooby, foi muito leal. Chegou no quarto e explicou a situação. Ele foi muito coerente, entrou dizendo que foi para jogar, lutou por aquilo e eu acho super válido. Nossa relação é muito boa e eu espero levar para a vida também.
Já tem planos para essa nova fase? Pretende seguir na carreira de designer?
Eu não tenho noção do que vai acontecer. Eu quero viajar! Se me perguntarem o que eu quero fazer agora que as pessoas me conhecem, eu digo: Me bota para viajar! Vamos fazer uns programas de viagens. Eu tenho muita vontade de colocar em prática um projeto que eu e o Vyni pensamos dentro da casa de viajar juntos, mas não sei como está a vida dele aqui fora, se ele vai querer. Queria colocar isso em prática, estar com ele, até porque estou morrendo de saudades. Mas eu não tenho ideia do que vai acontecer. Vocês têm noção de que eu vou andar na rua e as pessoas vão falar o meu nome? Eu não sei nem lidar com isso (risos).