Quebrar barreiras é algo que Carrilho faz com certa frequência, tanto na arte quanto na vida pessoal. Em entrevista exclusiva ao Terra, o músico defendeu que o futuro da arte queer passa também pela política.
"Eu consigo ver a gente cada dia mais forte, mais potente, cada dia ocupando lugares melhores. Eu consigo enxergar uma presidente trans. Nós estamos vendo as meninas na política quebrando tudo. E ninguém vai parar. Se você é preconceituoso, se você acha que o mundo era melhor no seu tempo, o amor, aceita, porque aqui ninguém vai voltar pra dentro do armário", provoca.
Na visão do cantor, muita gente se esconde atrás da expressão local de fala para não se comprometer em promover a luta da comunidade LGBTQIA+. "A gente quer que seja o seu lugar de fala também. Quem está de fora (da comunidade) é que tem maiores alcances para poder abraçar e fazer com que isso seja reeducado e transformado. Então a gente precisa que todo mundo contribua para essa mudança", defende.
Para ele, ser LGBTQIA+ no Brasil ainda é motivo de medo. "Muito medo, principalmente agora com a mudança de governo, a gente viu reações extremamente agressivas e desumanas, então dá muito medo. (...) Nós estamos desprotegidos ainda. Dá medo entrar no Uber que você não sabe o que você vai encontrar ali. Dá medo ficar na esquina. Você não sabe o que pode acontecer", reflete.
Inspirações para o novo álbum
O músico optou por atender uma parcela de seu público que pediu por músicas que não sejam apenas dançantes, mas também tenham um pouco do drama das relações entre as pessoas.
Um dos destaques fica para a faixa Boate Qualquer, que foi inspirada por um drama pessoal vivido por Carrilho, que esperou um amor voltar de uma temporada fora do Brasil, e foi trocado por uma boate qualquer quando a pessoa retornou.
“Então eu acho que a Boate Qualquer é muito sobre aquele relacionamento do qual a pessoa não te coloca em primeiro lugar e que ela sempre está colocando outras coisas que não é você. As pessoas estão se conectando muito com essa música, por isso que todo mundo já passou por uma situação parecida”, conta.
Segundo ele, o público abraçou as canções que flertam com a MPB, como a faixa “Rio de Janeiro”, que tem uma leve referência ao músico Sérgio Mendes. "Eu achei que eles (os fãs) iam gostar um pouco mais das dançantes, tipo a ‘Noite Perfeita’, que vai mais pro lado do funk. Mas não, eles abraçaram as mais a MPB, as mais românticas e eu fiquei super feliz", celebra.
Acima de tudo, Paixão Nacional é um trabalho pessoal, por isso a demora do lançamento, segundo Carrilho.
"Nesse ponto acredito que eu fui bem corajoso de realmente querer contar a minha história. (...) Esse álbum é para mostrar o artista que eu sou, e que talvez não estava tão definido ainda", afirma.