Mais de 30 anos se passaram após a Proclamação da Independência. O país em construção, ainda na formação de um Império, deu lugar a um Brasil em busca de identidade e progresso. O ano é 1856, e Dom Pedro II (Selton Mello), o líder que persegue esses ideais. Garantir a integração da nação e ampliar os horizontes do povo, investindo na educação, seriam as chaves para o futuro, na sua visão. ‘Nos Tempos do Imperador’, a próxima novela das seis, que estreia no dia 9 de agosto, é a primeira novela totalmente inédita desde o início da pandemia do coronavírus. A obra, ambientada no Rio de Janeiro, mostra personagens que, assim como Dom Pedro II, são movidos por grandes causas. Ao lutarem por suas paixões, acabam impactando toda a sociedade.
Nesse contexto, o público vai acompanhar a saga do casal Pilar (Gabriela Medvedovski) e Jorge/Samuel (Michel Gomes). Ambos travam batalhas pessoais para mudar seus destinos. Ela quer ser médica, mas vive em uma sociedade que não aceita que mulheres estudem. Ele quer viver em uma cultura mais igualitária, pois é negro e perseguido diante de sua condição de ex-escravizado. Suas trajetórias se cruzam com as dos personagens históricos Imperador Dom Pedro II, a Imperatriz Teresa Cristina (Leticia Sabatella) e Luísa, a Condessa de Barral (Mariana Ximenes).
A trama, escrita e criada por Alessandro Marson e Thereza Falcão, e com direção artística de Vinícius Coimbra, é uma história de amor e esperança, com elementos históricos, que remetem aos dias atuais. “Vamos trazer uma mensagem de responsabilidade com o país. Dom Pedro II tinha muito essa noção. Olhava para o Brasil e pensava o que poderia fazer para melhorar. Era muito bem formado, sabia o valor da ciência, da educação. Era um abolicionista, com um olhar para o Brasil muito responsável e interessante. A novela vai passar isso para as pessoas”, ressalta o diretor artístico, Vinícius Coimbra.
Para o autor Alessandro Marson, a novela traz a mensagem de que é possível promover ações positivas e usar o poder para o bem. “Vamos falar sobre a importância de pensar no coletivo e não no desejo individual. É tão rico isso! Você estar em um lugar de poder e conseguir usar isso para o bem”, destaca. Já a autora Thereza Falcão reforça que a novela vai inspirar com personagens corajosos, destemidos, que lutam por seus sonhos e defendem suas escolhas: “Somos donos da nossa história. Vamos mostrar o quanto a luta pessoal de cada um atinge a todos que estão à volta e gera transformações”.
Da mesma equipe de criadores da novela ‘Novo Mundo’, exibida pela Globo em 2017 e reprisada em 2020, que retratou um país nascendo, com a chegada da família real portuguesa, ‘Nos Tempos do Imperador’ agora aborda um Brasil já sólido, com um Imperador brasileiro, educado neste país, que vai colocar todo o seu conhecimento a serviço da pátria.
O Imperador do povo
Dom Pedro II (Selton Mello) precisou assumir cedo a responsabilidade com a política. Com apenas cinco anos, dois dias após a volta de seu pai, Dom Pedro I, para Portugal, com o intuito de disputar a coroa portuguesa, tornou-se Imperador do Brasil, sob regência. A mãe, Leopoldina, morreu quando Pedro tinha um ano, e sua educação foi conduzida por preceptores. Teve sólida formação, muito focada em alta cultura, ciência e tecnologia. A administração do Brasil ficou a cargo de regentes, até que, aos quatorze anos, com a Lei da Maioridade, foi declarado apto a assumir a coroa.
Muito jovem e sem os pais presentes, precisou amadurecer rápido e aprendeu que, antes de pensar em si mesmo, deveria colocar o país à frente dos seus sonhos. Na Corte, ficou conhecido como o Imperador viajante, pois buscou percorrer o extenso território brasileiro, de forma a manter a unificação do Brasil.
Casou-se por procuração com Teresa Cristina (Leticia Sabatella), fruto de um acordo político com a Casa Dinástica Europeia de Bourbon, visando garantir a sucessão ao trono, e só a conheceu depois. No entanto, aprendeu com ela os valores do casamento, da amizade e da família. Juntos, são pais de Leopoldina (Melissa Nóbrega/ Bruna Griphao) e Isabel (Any Maia/ Giulia Gayoso), lutam por um país mais justo, igualitário, com oportunidades na educação e nas artes para toda a população, mas enfrentam um caminho cheio de obstáculos.
Em uma de suas viagens com a Imperatriz pelo Brasil, recebe a visita de Solano López (Roberto Birindelli), comandante das tropas do Paraguai, que invade o Brasil sem anunciar, e pede a mão da princesa Isabel em casamento. O objetivo é selar um acordo entre Paraguai e Brasil contra a Argentina e o Uruguai. O encontro assusta o Imperador, que logo decide voltar ao Rio de Janeiro para pedir o apoio do Congresso na formação de um exército, já que sentiu a ameaça nas palavras de Solano ao negar seu pedido, e teme um possível ataque ao Brasil.
Além disso, precisa preparar as filhas para assumirem suas responsabilidades como membros da família real. Para ajudar na formação delas, convida Luísa (Mariana Ximenes), a Condessa de Barral, para ser a preceptora das meninas. Ele precisava de uma pessoa capaz de passar todas as noções de etiqueta, educação, assim como um conhecimento vasto do mundo às meninas, e recebeu a indicação da Condessa por meio de sua irmã, Francisca, que a conheceu na Europa. A Condessa é um grande exemplo de mulher, preparada para a função: é moderna, educada no exterior, domina diversos assuntos e sabe muito bem aonde quer chegar. Bem relacionada, é capaz de dominar qualquer assunto, além de ter tido acesso a um mundo que Dom Pedro II não teve a oportunidade de conhecer por toda sua responsabilidade com o Brasil. Ao conhecê-la, o Imperador se vê arrebatado por sua força e beleza.
O sonho de Pilar
Se a Condessa de Barral será um exemplo de atitude revolucionária na Corte, a trama também traz uma personagem com esse vigor entre as cidadãs comuns da época. A jovem Pilar (Gabriela Medvedovski) enfrenta, desde pequena, o peso de ser uma mulher do século XIX. Determinada, tenta convencer o pai Eudoro (José Dumont), fazendeiro e coronel da Bahia, a deixá-la estudar. Viúvo, ele criou sozinho ela e a irmã, Dolores (Júlia Freitas/ Daphne Bozaski).
Pilar passou anos em um convento, onde estudou e teve ainda mais a certeza de que queria ir em busca do sonho de se tornar médica, um objetivo quase impossível na época, visto que as mulheres eram proibidas de ingressar nas faculdades. Enquanto isso, a irmã Dolores sofreu com sua ausência, mas sempre pode contar com o seu amor.
Quando as meninas ainda eram bem pequenas, Eudoro prometeu casar Pilar com Tonico (Alexandre Nero), futuro candidato a Deputado pela Bahia, filho de seu compadre, coronel Ambrósio (Roberto Bomfim). A união seria vantajosa para ambas as famílias, pois permitiria aumentar o número de terras na região e somar forças, visando os interesses pessoais dos coronéis.
A ideia era que o casamento acontecesse quando os dois estivessem mais velhos, para o desespero de Pilar. Ciente da chegada de Tonico para o casamento e da ameaça de perder sua liberdade, ela revela à irmã seu plano de fugir em busca de seu maior sonho. Pilar quer chegar à Faculdade de Salvador para tentar convencer a banca de que é apta a cursar Medicina como outros homens da sua idade.
A chegada de Tonico
E, para impedir que Pilar consiga atingir seu objetivo, o personagem Tonico não medirá esforços. Ele conheceu Dom Pedro II quando ainda eram crianças. Na ocasião, agrediu o Imperador e foi expulso da Corte por desrespeitá-lo. Com raiva da atitude do filho e por perder regalias no governo, o coronel Ambrósio (Roberto Bomfim) mandou o menino para Pernambuco, onde passou anos estudando e se formou em Direito. Seu colega de turma e único amigo é Nélio (João Pedro Zappa), filho de João Batista (Ernani Moraes) e Lota (Paula Cohen), e irmão de Bernardo (Gabriel Fuentes), que vivem em Pindamonhangaba, mas sonham com títulos de nobreza.
Tonico viveu sem a presença materna e distante do pai. Ao longo dos anos, carregou um sentimento de inveja por Dom Pedro II e sempre usou Nélio para se dar bem, inclusive nos estudos. Ainda acredita que um dia tomará o lugar de Dom Pedro II e se tornará o Imperador do Brasil, como se isso fosse possível. Ao chegar à fazenda da família, depois de anos em Recife, Tonico se depara com o pai morto, fato que o desestrutura e muda seus planos. Ele passa a dedicar toda a sua energia para ir atrás do homem acusado de matar seu pai – sem saber que se trata do seu irmão bastardo, Jorge (Michel Gomes). Isso, somado aos objetivos de se tornar Deputado pela Bahia e de se casar com Pilar (Gabriela Medvedovski) guiarão suas atitudes e artimanhas ao longo da trama.
A luta de Jorge/ Samuel
Filho bastardo do coronel Ambrósio (Roberto Bomfim) com uma mulher escravizada, Jorge (Michel Gomes) luta para se tornar livre, como a maioria dos negros que vive na mesma situação. Ele foi escravizado pelo próprio pai durante um tempo e vendido depois, o que provocou a separação de sua irmã. Mas o desejo de reencontrar a jovem nunca ficou para trás, e ele decide procurar o pai para cobrar notícias dela. Recebe a informação de que ela foi vendida para um mercador no Rio de Janeiro. No entanto, durante a discussão com o coronel, uma tragédia acontece, e ele é acusado de um crime que não cometeu.
Decidido a ir em busca da irmã na Corte e para salvar sua própria vida, foge com a roupa do corpo. No caminho, é atingido por tiros dos jagunços que o perseguiam e nem imagina que atrás dele está o seu irmão Tonico (Alexandre Nero), filho legítimo de Ambrósio, que acaba de chegar à Bahia. Mas o destino está a favor dele. Ferido e muito fraco, recebe a ajuda de Pilar (Gabriela Medvedovski), que seguia a caminho de Salvador.
O encontro de Pilar e Jorge/ Samuel
Pilar aprendeu sobre primeiros socorros quando esteve no convento e consegue dar uma assistência determinante, que salva a vida de Jorge (Michel Gomes). No encontro, surge um interesse imediato de um pelo outro. Mas é preciso seguir viagem. Pilar, apesar de resistir aos encantos do jovem, se preocupa com o estado de saúde dele. É neste momento de angústia que aparece a Condessa de Barral na mesma estrada, a quem Pilar suplica ajuda ao rapaz.
A Condessa e Pilar se conhecem do Recôncavo Baiano, onde suas famílias possuem terras. Na base da confiança estabelecida entre as duas, Luísa prontamente atende ao pedido da jovem, levando Jorge para sua fazenda. Diante da realidade da escravidão e para a segurança de Jorge, ela precisa dar a ele uma nova identidade. Com isso, através de um documento entregue pela Condessa, ele passa a se chamar Samuel e se torna um homem livre.
A força da Condessa de Barral
Luísa está na Bahia com o marido Eugênio (Thierry Tremouroux) e o filho Dominique (Thor Becker) para o enterro de seu pai, Dom Domingo. Dono de uma fazenda na região, ele era conhecido por abrigar negros escravizados fugitivos e por dar alforria aos seus. A Condessa tinha em seu pai um exemplo de homem e estava dedicada a cuidar de sua saúde. Sua morte chamou a atenção dos coronéis vizinhos, interessados em comprar as terras que Luísa herdou. Firme, ela nega as propostas e mantém o legado de Dom Domingo, tomando as rédeas da administração da propriedade.
Ainda em casa, recebe a carta do Imperador Dom Pedro II a convidando para ser preceptora de suas filhas, as princesas Isabel (Any Maia/ Giulia Gayoso) e Leopoldina (Melissa Nóbrega/ Bruna Griphao). Cheia de orgulho, se honra com o convite e começa a preparar a mudança da família para a Corte. Jorge/ Samuel (Michel Gomes), com quem Luísa desenvolve uma cumplicidade durante a estadia em sua residência, é convidado para a viagem rumo ao Rio de Janeiro, onde tentará localizar a irmã e recomeçar a vida, longe das perseguições de Tonico (Alexandre Nero).
A fuga de Pilar
Pilar consegue chegar à faculdade, mas seus planos são interrompidos por seu pai. Eudoro vai atrás da filha em Salvador e a leva arrastada de volta para casa. Mas ela não desiste e arma uma nova fuga para o dia do casamento. No momento da cerimônia, foge sem deixar pistas, mas não impede a ira de Tonico, que, ao perceber que foi deixado sozinho no altar, é possuído por um desejo de vingança. Com isso, Eudoro precisa dar conta da dívida moral com Tonico, uma vez que o negócio do casamento não se concretizou. Ele afirma não querer mais Pilar como noiva e, em troca, pede a mão de Dolores, que ainda é uma criança, em casamento.
A chegada da Condessa à Corte e o encontro com Dom Pedro II
Luísa (Mariana Ximenes) segue viagem com Jorge/ Samuel (Michel Gomes) e a família. Já instalada com a família em sua nova casa na Corte, ela oferece uma quantia em dinheiro para que Samuel possa começar a vida na cidade. Em seguida, a Condessa vai até a Quinta se apresentar para Dom Pedro II. Ao lado de Eugênio, conhece a Imperatriz Teresa Cristina (Leticia Sabatella) e as filhas dos Imperadores, suas futuras alunas. Ao ficar frente a frente com a Condessa, Dom Pedro II é tomado por um encantamento diante da forte presença da preceptora. Sua beleza, atitude, elegância e inteligência chamam a atenção de todos e mexe com os desejos mais profundos do Imperador. Teresa percebe o comportamento do marido, mas, em nome da família, mantém a discrição e observa a aproximação dos dois.
A vida de Jorge/ Samuel no Rio de Janeiro e a acolhida na Pequena África
Samuel consegue se adaptar bem no Rio de Janeiro e promete pagar sua dívida com a Condessa de Barral assim que começar a trabalhar. No entanto, vive o preconceito por ser negro. A escravidão ainda era uma realidade muito latente na época: muitos negros passavam por maus tratos e, para a maioria, a única chance de sobrevivência era a fuga, mesmo que arriscada. Se não bastasse isso, Samuel sofre ainda com a patrulha exagerada do policial Borges (Danilo Dal Farra), com quem tem um mal-entendido logo nos primeiros dias. A abordagem ríspida é presenciada por Dom Olu (Rogério Brito), considerado o Rei da Pequena África, reduto dos negros livres na cidade à época. Muito respeitado por Dom Pedro II, ele interfere na discussão e afirma que Jorge é um dos moradores do local. Diante disso, o policial o solta, mas não vai desistir de prejudicá-lo.
A partir desse momento, Dom Olu apresenta a Pequena África ao mais novo cidadão do Rio de Janeiro. Vivendo nos Zungús, moradias coletivas, os negros libertos ou fugitivos que precisavam de proteção se ajudavam e mantinham os costumes, como a fabricação do angu, que era vendido aos escravizados da cidade, e os cultos religiosos. Lá também fica localizado o Cais do Valongo, por onde chegavam os navios com os negros vindos da África, e depósitos movimentados por causa do café, que empregavam a maior parte dos homens. Assim que Jorge/ Samuel revela tudo sobre seu passado, inclusive a mudança de identidade, Dom Olu faz o convite para que ele more no local com sua família: a esposa Cândida (Dani Ornellas) e a filha, Zayla (Alana Cabral/ Heslaine Vieira).
Além de conseguir um lugar para abrigá-lo, eles ainda lhe arranjam um trabalho como entregador, ajudando a vizinha Abena (Mary Sheyla), que é lavadeira e esposa de Balthazar (Alan Rocha), seu mais novo amigo. Nas andanças pela cidade, Jorge/ Samuel encontra uma viola e decide consertá-la. Com um talento nato e autodidata para a música, faz uma parceria com Balthazar e, juntos, começam a ganhar dinheiro com a arte.
O reencontro de Pilar e Jorge/ Samuel
Já com dinheiro suficiente para pagar o que deve à Condessa, Jorge/ Samuel decide procurá-la para agradecer por sua liberdade e contar as novidades. Durante a visita, enquanto aguarda Luísa (Mariana Ximenes), atende a um chamado na porta: é Pilar, para a surpresa de ambos. A emoção dos dois é recíproca, e o destino dá uma nova chance a eles. Dessa vez, não irão desperdiçar.
Pilar está chegando da Bahia, de onde fugiu mais uma vez das garras do pai, e busca o apoio de Luísa, que tem proximidade com Dom Pedro II, para conseguir uma bolsa de estudos. No encontro, além desse pedido, ela e Samuel revelam à Condessa como se conheceram e se apaixonaram. Luísa fica feliz com a coincidência e acolhe Pilar em sua casa. Luísa promete ajudar a jovem e apoia o relacionamento do casal.
Não demora muito, e a Condessa apresenta Pilar e Jorge/Samuel ao Imperador. Após o encontro decisivo, Dom Pedro II, comovido, lutará de todas as formas para ajudar os dois na realização dos seus sonhos, o que fará igualmente pelo Brasil. Já Pilar e Samuel, movidos pela paixão que nutrem um pelo outro, também têm o desejo de fazer a diferença na vida das pessoas, vencendo as barreiras impostas às mulheres e aos negros naquela época.
A vingança de Tonico e a separação de Pilar e Jorge / Samuel
Enquanto Pilar e Jorge/ Samuel vivem uma vida tranquila no Rio de Janeiro, Tonico segue com o desejo de vingança. Cada vez mais próximo de Dolores (Júlia Freitas/ Daphne Bozaski), ele acaba descobrindo que Pilar está namorando Jorge e prepara uma armadilha para separar o casal. Já candidato eleito pela Bahia, convida a futura família – Eudoro e sua noiva –para ir com ele até a Corte assistir à cerimônia de posse. Na ocasião, faz com que Dolores minta à irmã que Jorge/ Samuel tem um caso com Luísa (Mariana Ximenes), provocando o ciúme de Pilar, o que culminará na separação do casal.
Mesmo diante de um pedido de casamento de Jorge/ Samuel, ela acredita na revelação de Dolores e opta por aceitar o convite de Dom Pedro II para estudar Medicina nos Estados Unidos, com direito a uma bolsa. O jovem fica arrasado com a decisão da amada e decide tomar outro rumo na vida. Abandona a música, pede a ajuda do Imperador e vai estudar para se tornar Engenheiro e ser aceito na sociedade.
Cenografia retrata a Corte e o Brasil da segunda metade do século XIX
Com ambientes que retratam o Brasil da segunda metade do século XIX, ‘Nos Tempos do Imperador’ mantem alguns dos cenários utilizados na novela ‘Novo Mundo’, mas que sofreram as ações do tempo, como o Palácio da Quinta. O cenógrafo Paulo Renato, que também assinou a cenografia da primeira trama, é o responsável pelo trabalho, ao lado de Paula Salles. Nesta nova empreitada, eles têm o desafio de ultrapassar as três décadas que separam as duas novelas. Para isso, criaram novos ambientes para retratar os avanços do Brasil.
Com uma área de 8,2 mil metros quadrados nos Estúdios Globo, a cidade cenográfica da novela vai reproduzir as regiões cariocas da Rua do Ouvidor, da Pequena África, interligada com o Cais do Valongo, além do Passeio Público e a orla, que foi urbanizada e passou a ser frequentada na época. A cidade foi separada em dois espaços muito distintos visualmente: o novo, urbanizado, comercial; e o da Pequena África, empobrecido, envelhecido, antigo e colonial. O primeiro é o que Dom Pedro II gostaria de traçar para o Brasil; o segundo, representa a realidade que vinha se perpetuando.
Na trama, a estrutura urbana é ladeada por calçadas ainda de pedra e caixa coletora do esgoto pluvial e doméstico. Nesse período, com o processo de modernização, há fornecimento de gás para a iluminação da cidade, ainda que restrito a alguns pontos, como o Passeio Público e a Rua do Ouvidor. A época é marcada pelo início das edificações grandes e, por isso, na Rua do Ouvidor há construções de três andares, com uso misto: comércio embaixo e residência em cima, com dimensão bem próxima do real e reprodução das imperfeições encontradas nas referências. “Às vezes, beiram à desarmonia, mas tentamos traduzir isso e trazer como o registro de uma época”, reforça o cenógrafo.
A Pequena África é o núcleo culturalmente rico. “Estamos fugindo da imagem simples do negro escravizado, porque a diversidade da cultura negra nesse período da cidade era imensa. Poetas, advogados, uma pequena parcela que frequentou faculdade e teve espaço na sociedade viviam na região. As pessoas que circulavam na rua tinham uma identidade cultural muito forte, com origens em diversos locais da África”, conta o cenógrafo. Na região, o cenário está caracterizado com uma pintura mais degradada, com pouca manutenção. As construções têm muitos cômodos para uso multifamiliar, semelhantes a algumas visitadas pela equipe, com lotes compridos e coloniais. Nos cenários do núcleo, haverá poucos utensílios, pois os moradores da região não tinham quase nada. No entanto, os detalhes da arte mostram a riqueza da cultura africana. “A ancestralidade vai estar nos objetos, no altar, na religião”, enumera a produtora de arte Flávia Cristófaro. Ela destaca como curiosidade deste núcleo o trabalho do artista plástico de Pernambuco Luis Benício, convidado para ser o ghost sculpture que desenvolveu as máscaras em madeira de Dom Olu (Rogério Brito).
A novela vai contar também com cenários grandiosos, que ocupam boa parte do estúdio, como o Palácio da Quinta, onde Dom Pedro II vivia com a família, que ganha uma nova roupagem. No Segundo Império há bastante alteração, e o palácio fica mais sóbrio, pois passou por reformas ao longo dos anos, desde quando Dom João VI o encontrou. “Atendemos à mesma estrutura familiar, em um processo de passagem de tempo. Estou levando a cabo a construção da mesma estrutura do cenário com outra interpretação, roupagem, forração, cortina e cor”, diz Paulo.
Na Quinta, há uma austeridade, como em ‘Novo Mundo’, mas dessa vez mais arrojada, pela seriedade e erudição de Dom Pedro II (Selton Mello), que achava um absurdo gastar dinheiro à toa. Nos utensílios de uso da família, predomina a prataria gasta. “Tudo que compro é sempre direcionado a mostrar a austeridade do Imperador. As peças em prata, por exemplo, não são limpas, para manterem um tom escurecido”, ressalta Flávia.
Dom Pedro II e Teresa Cristina tinham um acervo próprio dentro do palácio. Para reproduzir as peças, que até setembro de 2018 podiam ser vistas no Museu Nacional do Rio de Janeiro, que incendiou, foram realizadas pesquisas através de documentos da Biblioteca Nacional, onde estão as descrições do museu. Muitos objetos foram reproduzidos na fábrica de cenários dos Estúdios Globo. “Alugamos algumas peças, mas 70% do material foi produzido nos Estúdios”, conta Flávia.
A produtora de arte explica ainda que não houve alteração no número de itens do cenário, mas que a forma de gravar tem sido um pouco diferente em virtude da pandemia. “Seguimos todos os protocolos de segurança, mas sem perder a essência da nossa trama. Em cena, às vezes, alguns objetos como livros, cartas ou mapas passariam pelas mãos de vários personagens. Mantivemos essas cenas, mas mudamos a forma de gravá-las: fazemos com um personagem do elenco por vez e, a cada troca de mãos daquele item, fazemos todo o processo de higienização. Isso torna o processo mais demorado, claro, mas não perdemos em nada ao retratar o que queremos”, explica.
No cenário da Condessa de Barral (Mariana Ximenes), um palacete, a nobreza é misturada com simplicidade, para dar o ar de aproximação. “Ela recebe Pilar (Gabriela Medvedovski) e Samuel (Michel Gomes) em sua casa, sem preconceito, e isso a torna uma pessoa muito humana. Temos que conseguir mostrar luxo sem ostentação, refinamento e humanidade”, contextualiza Paulo. A personagem monta a decoração a partir da necessidade da mudança, com seus hábitos e gostos de nobreza clássica. Segundo a pesquisa feita pela equipe, a Condessa recebia semanalmente produtos importados europeus, como louça, prataria e móveis. O serviço na casa dela é à francesa e, por isso, há um cuidado maior com as peças e na forma de servir. Os objetos são sempre com dourado e têm os melhores acabamentos, com o design mais arrojado para a época.
Ao contrário da Condessa, Tonico (Alexandre Nero) é o personagem que tenta ostentar, mas não sabe usar peças caras e típicas da nobreza. “Ele é o corrupto, vem com o dinheiro de herança do pai, mas é um cara tardio, sempre tentando fazer manobras”, descreve o cenógrafo. Em sua casa, a produção de arte optou pelos metais rústicos, como o cobre e o estanho.
Rusticidade também é a marca do cenário da Taberna dos Porcos, que existia em ‘Novo Mundo’ e pontua também a passagem dos anos entre as duas novelas. Continuará sendo uma taberna muito antiga e em ruínas, por isso há muito reaproveitamento dos utensílios do cenário anterior.
Além dos cenários nos Estúdios Globo, a trama teve gravações, antes do início da pandemia, em locações externas na Chapada Diamantina, na Bahia, para as cenas das expedições de Dom Pedro II e Teresa Cristina, e em fazendas em Barra do Piraí e Rio de Flores, no Rio de Janeiro. Lá, em três fazendas grandiosas, foram gravadas cenas importantes dos núcleos das famílias de Luísa (Mariana Ximenes), Tonico (Alexandre Nero) e Pilar (Gabriela Medvedovski). Nas propriedades, originalmente produtoras de café, a cenografia fez pequenas interferências para retratar uma realidade do Nordeste, em uma época mais colonial. “Fizemos pequenas alterações em função do technicolor, tratamento que será usado na novela. Retiramos esquadrilhas modernas e alteramos alguns tons para ficar mais adequado. Pintamos paredes e fachadas para dar um toque de vivência. Foi um desafio e uma escolha muito acertada para a questão estética da obra”, conta Paulo. Nessas casas, há uma ausência da presença feminina, pois os personagens são viúvos, como é o caso dos coronéis Eudoro (José Dumont) e Ambrósio (Roberto Bomfim). Há muito dinheiro e pouco refinamento, o que será percebido nos detalhes como a louça, que mistura porcelana e barro, e a decoração simples dos cômodos.
A cultura da época no figurino sustentável e na caracterização realista
Com mais de 35 anos de carreira, cerca de 50 novelas na TV Globo, sendo 15 delas retratando o século XIX, Beth Filipecki assina, com Renaldo Machado, o rico figurino de ‘Nos Tempos do Imperador’. Por se tratar de uma história fictícia, mas com alguns personagens reais, o compromisso do figurino é com a honestidade. Segundo Beth, assim como a trama e as demais áreas de produção, a intenção é que, com base nas pesquisas e na história real, o público tenha a oportunidade de ver figurinos da época e conheça mais sobre os personagens. A produção das roupas é toda feita nos Estúdios Globo, sendo 70% do material oriundo do acervo, que passa por uma customização em função dos tons da novela. “Fizemos um reaproveitamento total do acervo, mas mexemos nesse original. Também estamos evitando produzir lixo. Tecemos os fios na medida, e estamos construindo um figurino sustentável”, destaca Beth. Outra curiosidade é que cada personagem feminina tem uma cor predominante nas roupas, de acordo com seu perfil.
Em parceria com o figurino, a caracterização da novela é conduzida por Lucila Robirosa, responsável por manter o tom épico e realista dos personagens. Uma atenção à essência de cada personagem foi fundamental para a composição do visual como um todo. No caso de Dom Pedro II (Selton Mello), fica claro que foi um homem que não priorizava a roupa ou o visual. A caracterização do personagem foi inspirada em fotos históricas e promete chamar a atenção do público. “Selton usa lentes azuis claras e terá momentos diferentes a cada passagem de tempo. Mais novo, estará com a sobrancelha marcada e barba castanha. Na fase seguinte, Selton quase não usa caracterizações. Após a Guerra do Paraguai, se perceberá um envelhecimento, com o cabelo branco e uma longa barba branca, que demora quatro horas para ser preparada”, detalha Lucila. Beth complementa: “Dom Pedro II tinha uma aparência mais austera, sem interesse na competição da moda, mas cultuava barbas, bigode, um símbolo de masculinidade. Fazia questão de ter um traje puído e conquistar seu lugar através do trabalho”. Já a Imperatriz Teresa Cristina (Leticia Sabatella) segue o estilo comedido do Imperador, com vestidos em tom azul e diferentes perucas, que variam o penteado. A princesa Leopoldina (Melissa Nóbrega/Bruna Griphao) surge de lilás, e Isabel (Any Maia/Giulia Gayoso), de azul claro.
A Condessa de Barral (Mariana Ximenes), por sua vez, foi criada para que tivesse muita distinção, vivesse e soubesse se portar em qualquer lugar, assim como se vestir em diferentes ocasiões, sem exageros. Mariana Ximenes escureceu o cabelo para interpretá-la, usa lentes escuras e conta com cinco perucas diferentes, que mudam de acordo com os penteados. Os vestidos da Condessa são de seda pura, mais sofisticados, em tons predominantemente verdes. Através da pesquisa ampla feita pela equipe, seu figurino busca traduzir o empoderamento da mulher também nas roupas da época, o que é representado nos trajes da jovem Pilar (Gabriela Medvedovski), por exemplo. A personagem é mais despojada e não usa espartilhos. O amarelo é a cor escolhida para ela, em tecidos mais rústicos e com elementos masculinos, simbolizando sua luta por espaços que, na época, não eram das mulheres. “Ela representa a luz solar, a ideia da esperança, o que reproduz a liberdade. É progressista, está com a cabeça voltada para ser a primeira médica do Brasil. Junto com a irmã Dolores (Daphne Bozaski) foi criada sem mãe e sem afeto, por isso construímos um figurino mais seco, sem bordados, enquanto estão na fazenda”, conta Beth.
Na época, as classes em ascensão procuravam imitar os padrões dos grupos mais elevados, o que poderá ser visto nos figurinos de personagens como Jorge/Samuel (Michel Gomes). No início da trama, ele é um homem escravizado, até ser ajudado pela Condessa de Barral (Mariana Ximenes), quando passa a usar as vestimentas de Eugênio (Thierry Tremouroux): camisa, calça, chapéu e sapato. Por isso, ao chegar à Corte, ele aparenta ser um proprietário rural e não um homem da cidade. Na sequência, após ser acolhido por Dom Olu (Rogério Brito), na região da Pequena África, vai usar roupas com elementos africanos. Neste núcleo, o conceito de liberdade passa por todos os personagens. Segundo a figurinista, o trançado do cabelo e nos tecidos representa a prisão. Quando as personagens se tornam livres, soltam as tranças, os nós e usam roupas mais soltas. “Temos a oportunidade de mexer nas roupas no corpo desses personagens para refletir seus níveis de liberdade”, detalha Beth.
Tonico (Alexandre Nero) é outro personagem cujo figurino passa por uma mudança, sempre retratando sua esquisitice. Quando está na fazenda, usa muitas peças em couro e outros materiais pesados, está sempre de botas. Quando chega à Corte e é eleito Deputado, começa a se preocupar mais com a aparência.
Essa mudança de visual com a chegada à cidade ganha ares cômicos na interpretação do casal João Batista (Ernani Moraes) e Lota (Paula Cohen). Recém-chegados do interior, compram tudo o que é novidade, mas têm de aprender a usar, sempre buscando seguir o exemplo da nobreza. Lota não está natural com suas roupas, parece usar uma armação. Batista passa por isso também. Não sabe ficar dentro das roupas e estranha. “Lota vai ter perucas e apliques diferentes. Era a época do cabelo dividido ao meio e os cachos. Ela usa roupas com recortes em andares, crinolina, armação de baixo, mas toda caracterização da Família Pindaíba representa o exagero”, completa Beth.
Outro núcleo divertido que chama a atenção pelo figurino e a caracterização é o dos personagens Licurgo (Guilherme Piva) e Germana (Vivianne Pasmanter), que dão continuidade ao sucesso de ‘Novo Mundo’ e herdam as roupas da produção anterior. “Eles estão mais velhos, enrugados, maltratados, mas continuam porcos, sujos. Representam o que resta, mas com muita energia. A gente manteve tudo o que trouxeram, mas com adaptações. No lugar da roupa de cima, agora Germana está de ceroula. Temos todo cuidado e carinho com esses dois personagens”, explica Beth. Vivianne Pasmanter usará uma peruca inteira e grisalha, diferente dos apliques da novela anterior. Além disso, terá manchas, pelos no rosto e verruga. Já Licurgo (Guilherme Piva) estará careca e com psoríase na cabeça. Ambos estarão quase sem dentes, com dentaduras. Com tantos efeitos, a dupla leva cerca de três horas para se caracterizar.